Um embate
Onde o intuito é ganhar.
O corpo pede um empate
Para a mente apaziguar.
A razão recua,
Simulando alguma fraqueza;
A justiça crua
É sempre a melhor defesa.
O coração insiste
Numa jogada combinada;
Se a afeição existe
É para ser usada.
Não falta moral,
Como num jogo de futebol;
Faltam gestos de um igual
Com sabor a mentol.
Existe apenas uma solução
Para o duelo transpor:
Unir o dom da razão
Ao sentimento adverso à dor.
Sexta-feira.
7:00 da manhã.
Na mesa-de-cabeceira
O despertador grita, como se fosse meu fã.
Hora de levantar
E começar um novo dia.
(Mais tarde posso acordar
Sem aquela gritaria).
Diferentes vozes,
A mesma rotina;
Salvo pensamentos ferozes
E outros que ninguém imagina.
O tempo passa
Entre risos e gargalhadas;
A paciência, outrora escassa,
Doa lugar a imagens desvairadas.
Sexta-feira.
11:57 da noite.
Arrumo a roupa ligeira
E saiu em busca de algo que me afoite.
Venço o cansaço
Dando asas à imaginação;
É hora de ocupar o meu espaço
Na pista da diversão.
E se eu te ignorasse?
Se fizesse de ti um desconhecido
E não te abraçasse,
Como se te tivesse esquecido?
E se eu esquecesse as vivências?
O que em tempos nos uniu,
Criou laços, dependências
E que o orgulho destruiu?
E se eu não mais te falasse?
Se não te fizesse sorrir
Como se não me importasse
Com a dor que queres encobrir?
E se eu morresse?
Chorarias por mim
Ou agirias como se eu merecesse
Tão insólito fim?
E se eu agisse como tu?
Se fosse fria, egoísta,
Expondo segredos a nu,
Esquecendo o passado altruísta?
E se (re)começássemos do nada?
Sem mentiras nem presunções,
Sem qualquer mascarada
Que nos leve a falaciosas acções?
Quatro paredes,
Um destino incongruente.
Porque não vedes
O quanto estou inocente?
O cheiro dos excrementos,
O sabor a ferrugem,
São mórbidos tormentos
Dos fantasmas que me urgem.
Meu sangue marca cada dia
Sempre que amanhece
Aqui, nesta cela fria,
Onde o meu corpo aos poucos perece.
A vós imploro
A brisa para lá das grades,
Pois as lágrimas que choro
Cerrarão o pacto com Hades.
[…]